sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Discernimento - Ver ou Não ver eis a questão !!

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho foi feito com o objetivo de trazer breves considerações acerca o discernimento na Doutrina Espírita, cumprindo exigência dos Estudos Espíritas realizados no Centro Espírita Alunos do Bem. A relevância do tema discernimento é justificada, pois o aprimoramento de nossa capacidade de discernimento é requisito básico para nossa evolução espiritual. É um desafio que temos que dar a si mesmos: VER, e não só olhar, ver realmente o que é melhor e o que não é, e muitas vezes isso é difícil pois não queremos mudar velhos hábitos, mas depois que o visto fica claro, é mais difícil escolher não ver, é mais difícil não ter o discernimento para ver.

“Quanto mais elevado o discernimento, mais livre se lhe fará a criação mental originária para libertar e aprisionar, enriquecer e sublimar, agravar os males ou acrescentar os próprios bens na esfera do destino.” grifo nosso
XAVIER, F. C.; VIEIRA, V. (André Luís), 1959, P 78


2 DISCERNIMENTO
Conforme Vasconcellos (2011) aponta, para cumprirmos nosso objetivo primordial da nossa reencarnação, que é o progresso espiritual, como os Espíritos superiores vêm destacando, precisamos evoluir e desenvolver a nós mesmos nas mais variadas esferas, conhecimentos, habilidades e atitudes. O bem-estar do espírito está diretamente relacionado com a sua habilidade de discernimento.
O dicionário Aurélio define discernimento como: “1. faculdade de discernir 2. faculdade de julgar as coisas clara e sensatamente; critério; tino; juízo 3. Apreciação, análise. 4. Penetração, sagacidade, perspicácia.” (p. 689) Sendo assim, relacionando com Vasconcellos (2011) podemos ver que discernimento é a capacidade de compreender as coisas e saber distinguir o melhor caminho a tomar, pressupondo habilidade de apreciar e analisar as situações com bom senso e clareza, tino e juízo. É considerada sinônimo de sagacidade e perspicácia.
O discernimento é definido de diversas formas por diferentes indivíduos. O cientista social Warren S Brown aponta discernimento como uma ‘forma de sabedoria’ de ver determinada questão por uma ótica ‘singularmente inteligente’, de tal modo que
leve á clareza da questão. O pesquisador Hazel C. V. Trauffer aponta discernimento como a “regulação do pensamento de um individuo na busca de ‘aquisição e aplicação de conhecimento na tomada de decisões que sejam corretas, justas, e dignas’.1Salomão, o lendário rei de Israel, é reconhecido pela sua habilidade de discernimento, pela sua capacidade de tomar decisões corretas.
O Espírito Emmanuel, de maneira similar, argumenta que “Cultura intelectual e aprimoramento moral são imperativos da vida, possibilitando-nos a manifestação do amor, no império da sublimação que nos aproxima de Deus”. Afinal de contas, como ele bem pondera: “... o semeador do Céu ausentou-se da grandeza a que se acolhe e veio até nós, espalhando as claridades da Revelação e aumentando-nos a visão e o discernimento [...]”. Assim sendo, “Aceitar os problemas do mundo e superá-los, à força de nosso trabalho e de nossa serenidade, é a fórmula justa de aquisição do discernimento.” (EMANUEL apud VASCONCELOS, 2011)
O discernimento está ligado, de acordo com Chico Xavier, com a “iniciativa de procurar entender a sabedoria divina”2. Para isso, precisamos aprofundar nossos estudos espíritas e aprimorar nossas habilidades em meditar e admirar a beleza da Vida. O Evangelho é um ótimo remédio para a preservação de nossa saúde espiritual, conforme aponta Vasconcellos (2011). “Poucos são os que procuram auscultar, em profundidade, as lições que se encontram exaradas no Evangelho”.
Allan Kardec, na obra “O Livro dos Espíritos”, na questão 464, nos dá uma pista de como exercitar nossa habilidade de discernir, ao perguntar aos mentores espirituais a seguinte questão: “Como distinguirmos se um pensamento sugerido procede de um bom Espírito ou de um Espírito mau?” Ao que eles prontamente lhe esclareceram: “Estudai o caso. Os bons Espíritos só para o bem aconselham. Compete-vos discernir”. Ou seja, devemos analisar a natureza da sugestão que nos vem a mente, se ela é boa, ruim ou apenas confusa, então poderemos saber se devemos acolhê-la ou não.3
Vale acrescentar igualmente a treva que há em nós mesmos – algo sempre muito duro de admitirmos. Aliás, o Espírito Emmanuel observa com sabedoria que: “O comprimido ajuda, a injeção melhora, entretanto, nunca te esqueças de que os verdadeiros males procedem do coração”.10 No entanto, a nossa opaca visão nos impede – muitas vezes – de enxergarmos as coisas que desafiam o bom senso. E isto é tão grave que, não raro, abarca até mesmo as nações como um todo. (VASCONCELOS, 2011)
Nossa capacidade de discernimento pode ser exercitada cotidianamente, ao observarmos o mundo em que vivemos, a realidade como ela é, com tantas expressões da questão social cada vez mais latentes como a violência, a miséria, a drogadição, a indiferença com o próximo, entre outros. Os falsos profetas, que prometem “um lugar no céu” em troca de dinheiro e submissão, para que eles mesmos continuem tendo cada vez mais ‘poder’ no plano terreno com bens materiais e manipulação das pessoas. Ao observarmos e analisarmos de modo dialético a realidade em que vivemos, podemos ver que estamos em um momento de transformação profunda no mundo em que vivemos.
O progresso na terra de hoje compele a criatura a resguardar profunda atenção, com duas atitudes essenciais a própria segurança no comportamento comum, ligar e desligar para isso é imperioso desligar o pensamento de questões que possam te afligir sem necessidade.
Para desenvolvermos nossa habilidade de discernir, precisamos combater o egocentrismo, e abraçar a humildade. “Relata Lucas (17:15) que Jesus curou em determinada aldeia dez leprosos ávidos pelos seus poderes miraculosos em sua viagem rumo a Jerusalém. No entanto, apenas um voltou para agradecer a graça recebida.“4
Essa passagem nos traz a reflexão, quantas vezes não nos esquecemos de agradecer por todas as coisas boas da vida? Será que só lembramos de Deus quando estamos mal? O discernimento envolve humildade, tolerância, autocrítica e disposição para mudança e para eventual sacrifício e renúncia. “Emmanuel nos incita a servirmos sempre. E a caridade é indiscutivelmente um meio eficaz de colocarmos essa recomendação em prática.”5
Uma das questões que a Doutrina Espírita aborda é que todos temos livre arbítrio. Temos liberdade de escolha. Muitos então questionam: mas como temos liberdade para fazer o que quisermos se estamos presos de tantos modos nesta sociedade que cada vez mais tolhe direitos, seja o de ir e vir, seja o de viver sem violência, seja o de livremente se expressar.
É que na verdade, como aponta André Luís, o livre arbítrio fica claro não nível físico concreto da vida terrena, mas sim nos processos da consciência. Pois mesmo uma pessoa encarcerada em regime fechado em um presídio, é livre no pensamento para escolher o Bem ou o mal para “as rotas do Espírito”.

O discernimento deve ser, assim, usado por nós outros à feição de leme que a razão não pode esquecer à matroca, de vez que se a vida física está cercada de correntes eletrônicas por todos os lados, a vida espiritual, da mesma sorte, jaz imersa em largo oceano de correntes mentais e, dentro delas, é imprescindível saibamos procurar a companhia dos espíritos nobres, capazes de auxiliar a nossa sustentação no bem, para que o bem, como aplicação das Leis de Deus, nos eleve à vida superior. (XAVIER, F. C.; VIEIRA, V. (André Luís). 1959, P. 78)

Todos somos diferentes, apesar de nossas semelhanças, sendo assim discernimento também abrange tolerância com as diferenças, com as adversidades. Afinal, todos temos nossas experiências pessoais e necessidades particulares, nossos defeitos e nossas qualidades. “Em vista disso, se consegues discernir os riscos em que se encontram determinados irmãos, usa a caridade do entendimento para com ele, a fim de que não venha a precipitá-los em riscos maiores.” Grifo nosso (XAVIER, F. C. (Emanuel), 1979, P. 50)
Amplia a visão sobre as múltiplas faixas em que se subdividem os grupos sociais da Terra e observaremos que em todos os lugares renteamos com aqueles que nos pedem compreensão e simpatia. Os que trabalham mais e os que trabalham menos, os que agem ativamente e os que repousam, além do necessário, solicitam sustentação e amparo, estímulo e benção, a fim de serem ou continuarem a ser o que devem ser. (XAVIER, F. C. (Emanuel), 1979, P. 78-79)
Temos de exercitar nossa autocrítica cotidianamente a fim de corrigir nossas falhas e aprimorar-nos em nós mesmos, eliminando nossos preconceitos, para que possamos aprimorar também a nossa capacidade de discernimento, de julgar melhor uma situação sem as sombras do preconceito ou senso comum que todos carregamos de uma forma ou de outra.
O preconceito, já tem em sua definição o seu significado: é um pré-conceito, um pré-julgamento, no qual você forma uma opinião sobre uma coisa sem conhecê-la, Devemos compreender a realidade como ela se apresenta e não como se enxerga em uma primeira vista. A realidade possui diferentes aspectos, e dependendo do qual é observado prevalece um ou outro lado, pois o que pensamos muitas vez é resultado de uma construção social histórica.
Por exemplo, a questão de gênero, desde antigamente e até hoje se vê muitas prevalecer a ideia que “em briga de marido e mulher não se mete a colher” mesmo numa situação de violência física contra a mulher, sendo inclusive natural ouvir dizer “mas ela sempre volta pra ele, é porque ela gosta de apanhar”, quando na verdade hoje se sabe que quando uma pessoa entra em um ciclo de violência é difícil quebrá-lo, É importante apontar esta questão visto que a cada 15 segundos uma mulher é violentada no Brasil, na maioria das vezes pelo
próprio companheiro. E o preconceito com a mulher agredida ainda é fortemente disseminado, sendo muitas vezes esta violência justificada ou de alguma forma atenuada pelo modo como a mulher se veste ou se comporta, como se isto justificasse a violência.
É preciso procurar se colocar no lugar do outro, é preciso ir além do superficial, ter uma visão critica dos múltiplos fatores econômicos sociais que estão por trás, o conhecimento cientifico também nos ajuda a discernir melhor a situação, não só baseado no senso comum, e para vermos em nossas atitudes cotidianas nossas imperfeições e pré-conceitos que todos temos e podermos reavaliá-lo constantemente para termos maior discernimento.
Sócrates foi extremamente inspirado ao nos estimular a que conhecêssemos a nós mesmos. No entanto, “Somos pródigos em argumentos para não crer e, assim, não ter que mudar”, conforme observa o Espírito Inácio Ferreira. Afirma ele ainda que: “Saúde mental é também saber aceitar-se com as próprias fragilidades, sem, todavia, com elas se conformar” Sendo assim, este mentor espiritual enfatiza que devemos analisar o real teor de nossos pensamentos para podermos ver então nossas reais intenções.6

A humildade de admitir que não sabemos tudo e que ainda temos muito a aprender, e defeitos a corrigir. Devemos aprender a dar valor às coisas simples da vida, precisamos ter discernimento de saber distinguir o caminho a tomar em prol de nossa evolução. Isso é um exercício difícil, uma habilidade que só com o tempo aperfeiçoaremos, erros são comuns e fazem parte do aprendizado, afinal como uma criança aprende a não botar a mão no fogo? Muitas vezes é se queimando... E como disse Emanuel: “Qualquer desilusão é apelo à realidade e toda vez que nos reconhecemos em desacerto, isso é sinal de que estamos progredindo em discernimento.” grifo nosso (XAVIER, F. C. (Emanuel), 1979, p .2-3)

Segue e não temas.
Se chegaste a uma encruzilhada envolvida em névoa espessa, com dificuldade para discernir o caminho a seguir, ora e confia.
Deus tem recurso para guiar-te em rumo certo.
Não esmoreça.
A vida reserva prodígios para quem segue adiante, trabalhando e servindo...
Unge-te de coragem e fé em Deus e em ti mesmo, porque ninguém pode caminhar com os teus pés.
Não temas.
Ninguém é capaz de interromper o progresso, tanto quanto ninguém consegue impedir que as trevas da noite transforme nas luzes do alvorecer.”grifo nosso (XAVIER, F. C. (Emanuel), 1979, p.4-5)

Outro ponto importante a considerar para ampliarmos nossa capacidade de discernimento, está relacionado com o estabelecimento de prioridades, como bem aponta Vasconcelos (2011):

Discernimento é saber priorizar o tempo – que, por sinal, anda cada vez mais escasso por conta de jornadas de trabalho excessivas e crescentes obrigações – para coisas que nos agreguem sabedoria. Como diz o Espírito Inácio Ferreira, “Evoluir é promover a reeducação do espírito” grifo nosso (p. 04)

Então discernimento é conseguirmos persistir nas atividades que nos tragam sabedoria, em meio ao correrio cotidiano que prevalece no sistema capitalista7 em que vivemos, e cuja tendência é se apertar cada vez mais. Como ter discernimento sobre o melhor a fazer, se o sistema capitalista tem em sua lógica perversa a exploração do ser humano? Se trabalhamos, estamos sendo explorados, e se somos donos de negócio, somos exploradores. Se cada vez é maior a pressão da mídia, da competitividade, do consumismo e o individualismo? Penso que primeiro temos que aceitar que vivemos em uma contradição, e tudo tem seus dois lados. E temos que procurar ver o melhor dele, mas sem se conformar e se acomodar. Faça sempre o Bem e nunca deixe de lutar pelo Bem. Nunca deixe de lutar por melhores condições de evolução para nossos irmãos. “Natural examines no mundo os problemas de comportamento. Discernir o certo do errado. Entender o que auxilia e o que prejudica.” Grifo nosso (XAVIER, F. C.; VIEIRA, V. (André Luís), 1959, p. 78)
Discernimento é adquirir serenidade e paz interior para aceitar viver com base em valores espirituais. Concluindo, devemos usar os dilatados recursos que o Espiritismo nos dispõe e aplicá-los na ampliação da nossa cognição (isto é, percepção, juízo e entendimento) do mundo e, sobretudo, de nós mesmos. (VASCONCELOS, 2011, P. 4)
Um ponto essencial para conseguirmos aprimorar nossa capacidade de discernimento, é a fé em Deus, como bem aponta Emanuel:

A fé em Deus não te arredará das provas inevitáveis, mas te investirá na força devida para suportálas;
[...] não te livrará da enfermidade de que ainda precises, no entanto, iluminar-te-á o entendimento para que lhe assimiles o recado salutar;
não te retirará dos desenganos e decepções que o mundo te propicie, mas auxiliar-te-á a extrair deles mais luz ao próprio discernimento. (XAVIER, F. C. (Emanuel). 1979)

3 REFERÊNCIAS
AURÉLIO,
HUNT, E. K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. Rio de Janeiro: Campus, 1981.
KARDEC, Alan. O livro dos Espíritos. (Tradução de Guillon Ribeiro). FEB: 2007.
VASCONCELOS, Anselmo Ferreira. Ampliando a Capacidade de Discernimento. IN Revista O Consolador. Ano 5, nº 239. São Paulo: 2011.
XAVIER, Francisco C. (Pelo Espírito Emanuel) Amigo. 1979.
XAVIER, Francisco C. (Pelo Espírito André Luiz) Uso do discernimento IN Mecanismos da Mediunidade.Versão Digital. FEB: Rio de Janeiro, 1959.
Uso do discernimento

Assunto pesquisado por Vanessa Perini Moojen

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