José Herculano Pires nasceu na cidade de Avaré, no estado de São Paulo a 25.09.1914, e desencarnou na capital em 09.03.1979. Foi um jornalista filósofo, educador e escritor espírita.
Revelou sua vocação literária desde que começou a escrever. Aos 9 anos fez o seu primeiro soneto, um decassílabo sobre o Largo São João, da sua cidade natal. Aos 16 anos publicou seu primeiro livro, Sonhos Azues (contos). Destacou-se como um dos mais ativos divulgadores do espiritismo no país. Traduziu os escritos de Allan Kardec e escreveu tanto estudos filosóficos quanto obras literárias inspiradas na doutrina espírita.
Foi um dos fundadores da União Artística do Interior (UAI). Em 1928 transformou o jornal político de seu pai em semanário literário e orgão da UAI. Mudou-se para Marília em 1940 (com 26 anos), onde adquiriu o jornal Diário Paulista e o dirigiu durante seis anos.
Repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e crítico literário dos Diários Associados, são funções que exerceu por cerca de trinta anos.
Autor de 81 livros de filosofia, ensaios, histórias, psicologia, pedagogia, parapsicologia, romances e espiritismo, vários em parceria com Chico Xavier, sendo a maioria inteiramente dedicada ao estudo e divulgação da Doutrina Espírita.
Alegava sofrer de grafomania, escrevendo dia e noite. Não tinha vocação acadêmica e não seguia escolas literárias. Seu único objetivo era comunicar o que achava necessário, da melhor maneira possível. Graduado em Filosofia pela USP em 1958, publicou uma tese existencial: O ser e a serenidade. De 1959 a 1962 foi docente titular da cadeira de filosofia da educação na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara.
Foi membro titular do Instituto Brasileiro de Filosofia, seção de São Paulo, onde lecionou psicologia. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo de 1957 a 1959. Foi professor de sociologia no curso de jornalismo ministrado pelo Sindicato.
José Herculano Pires foi presidente e professor do Instituto Paulista de Parapsicologia de São Paulo. Organizou e dirigiu cursos de parapsicologia para os centros acadêmicos da Faculdade de Medicina da USP, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, da Escola Paulista de Medicina e em diversas cidades e colégios do interior.
Foi membro da Academia Paulista de Jornalismo, onde ocupou a cadeira “Cornélio Pires” em 1964, e pertenceu a União Brasileira de Escritores, onde exerceu o cargo de diretor e membro do Conselho no ano de 1964.
Exerceu ainda o cargo de chefe do Sub-Gabinete da Casa Civil da Presidência da República no governo do Sr. Jânio Quadros, no ano de 1961, onde permaneceu até a renúncia do mesmo.
Espírita desde a idade de 22 anos, não poupou esforço na divulgação falada da doutrina codificada por Allan Kardec, tarefa essa a qual dedicou a maior parte da sua vida. Durante 20 anos manteve uma coluna diária sobre espiritismo nos Diários Associados, com o pseudônimo de Irmão Saulo. Durante quatro anos manteve no mesmo jornal uma coluna em parceria com Chico Xavier sob o título “Chico Xavier pede Licença”.
Foi diretor fundador da revista Educação Espírita, publicada pela Edicel. Fundou o Clube dos Jornalistas Espíritas de S. P. em 23/01/48. O clube funcionou por 22 anos.
Traduziu cuidadosamente as obras da codificação de Allan Kardec, enriquecendo-as com notas explicativas nos rodapés. Essas traduções foram doadas a diversaseditoras espíritas no Brasil, Portugal, Argentina e Espanha. Colaborou ainda com o Dr. Júlio Abreu Filho na tradução da Revista Espírita de Allan Kardec.
Ao desencarnar deixou vários originais, que vêm sendo publicados pela Editora Paidéia (de sua família).
José Herculano é considerado um dos autores mais críticos dentro do movimento espírita. A sua linha de pensamento era forte e racional, combatendo os desvios e mistificações, sendo a maior característica do conjunto de suas obras a
luta por demonstrar a consistência do pensamento espírita e defender a valorização dos aspectos crítico e investigativo, originalmente propostos por Kardec.
Em seus ensaios nota-se a preocupação em combater interpretações e traduções deturpadas das obras de Kardec, inclusive aquelas que surgiram no seio do movimento espírita brasileiro ao longo do século XX.
Defendia o conceito de pureza doutrinária, segundo o qual era preciso preservar a doutrina de todo tipo de influência mística, esotérica ou meramente cultural religiosa.
Em monografias filosóficas, a exemplo de Introdução à filosofia espírita, propõe-se a esclarecer a contribuição do espiritismo para o desenvolvimento da filosofia, em especial no tocante ao sentido da existência humana. Contrapõe-se frontalmente ao niilismo e ao existencialismo materialista.
Os seus estudos científicos, sempre recheados com uma infinidade de informações levantadasà exaustão junto a pesquisadores do mundo inteiro, e fortemente calçados na base e na metodologia kardequiana, chegavam a conclusões profundamente otimistas sobre os resultados conseguidos pela pesquisa espírita. Em mediunidade chega a afirmar que a tese espírita da existência de energias espirituais típicas já havia sido comprovada cientificamente. A conclusão talvez seja discutível, haja vista a relutância ainda vigente nos dias atuais aos métodos e conclusões da pesquisa espírita, mas o que mais chama a atenção nesses estudos é a profunda capacidade de correlacionar informações diversas de maneira a cercar um problema e suas causas potenciais, lembrando e complementandoo que faziam Bozzano e Kardec: a razão nos diz que não basta encontrar uma causa para um fenômeno, é necessário buscar a causa de um conjunto consistente de fenômenos.
Títulos publicados
. A ciência espírita e suas implicações terapêuticas
. A obsessão – o passe – a doutrinação
. A pedra e o joio
. Adão e Eva
. Agonia das religiões
. Arigó – vida, mediunidade e martírio
. Astronautas do além (em parceria com Chico Xavier)
. Barrabás (trilogia “A conversão do mundo”)
. Chico Xavier pede licença (em parceria com Chico Xavier)
. Concepção existencial de Deus
. Curso dinâmico de espiritismo
. Diálogo dos vivos (em parceria com Chico Xavier)
. Educação para a morte
. Evolução espiritual do homem na perspectiva da doutrina espírita
. Introdução à filosofia espírita
. Lázaro (trilogia “A conversão do mundo”)
. Madalena (trilogia “A conversão do mundo”)
. Mediunidade
. Metrô para outro mundo
. Na era do espírito (em parceria com Chico Xavier)
. Na hora do testemunho (em parceria com Chico Xavier)
. O caminho do meio
. O centro espírita
. O espírito e o tempo
. O menino e o anjo
. O mistério do ser ante a dor e a morte
. O reino
. O sentido da vida
. O ser e a serenidade
. O túnel das almas
. O verbo e a carne – duas análises do roustainguismo (em parceria com Julio de Abreu Filho)
. Os filósofos
. Os sonhos de liberdade
. Os sonhos nascem da areia
. Os três caminhos de Hécate
. Parapsicologia hoje e amanhã
. Pedagogia espírita
. Pesquisa sobre o amor
. Poesias
. Relação espírito-corpo
. Revisão do cristianismo
. Um Deus vigia o planalto
. Vampirismo
Além dos seus livros, Herculano traduziu e/ou comentou as seguintes obras de Allan Kardec (Editora Lake):
. O livro dos espíritos
. Revista Espírita
. O que é o espiritismo
. O livro dos médiuns
. O evangelho segundo o espiritismo
. O céu e o inferno
. A gênese
. Obras póstumas
Considerações Finais
Não há dúvida de que Herculano foi acima de tudo um filósofo do Espiritismo.
Ao publicar a sua Introdução à Filosofia Espírita, Herculano enfrentou o problema da análise do Espiritismo como doutrina filosófica, discutiu a teoria do conhecimento espírita, e propôs uma Filosofia Espírita da Existência, que chamou de Existencialismo Espírita: a busca na realidade concreta da essência possível, partindo dela para as induções metafísicas. Ao invés de partir da essência impalpável, e nela ficar, o Espiritismo parte dos fatos, dos fenômenos, do real, da vida. A discussão da existência leva à essência, não o contrário.
Ao propor uma concepção existencial, Herculano permite-nos também compreender o processo dialético vivido pelo espírito ao nascer, viver, morrer e renascer. Analisando mais especificamente o trabalho de Kardec percebemos que toda a teoria espírita se construiu partir dos fatos. A visão existencialista permite ver o papel de Kardec e dos demais colaboradores do Espiritismo na sua construção. O maior kardeciólogo que o mundo já viu também buscou, a cada instante, compreender, interpretar e avaliar o papel de Kardec.
Talvez seja possível resumir o que buscou continuamente Herculano: desvendar o grande desconhecido, ou seja, compreendere discutir visão de mundo do Espiritismo, analisar sua contribuição ao conhecimento humano, detalhar seu método, avaliar o papel de Kardec e dos Espíritos na sua elaboração, e mostrar a todos tudo o que descobriu.
Assunto pesquisado por Isabel Carla dos Santos